"A poesia é também uma forma de filosofar, de tentar compreender o movimento da vida, dar-lhe algum sentido, traduzir-lhe para os outros seres, usando mais o sentimento do que a razão. Os ingredientes dessa arte de profundidade filosófica provêm das experimentações das situações que a própria vida fornece, tantas vezes, independente de nossas escolhas. E a tradução é sempre acompanhada de beleza, de leveza, porque não se prende a nenhum proprietário. A poesia se doa a todo aquele que se reconhece e se apropria daquilo que percebe nos seus versos. Está sempre em estado de transformação, sempre interagindo, sempre sendo traduzida segundo a emoção e o conteúdo interno daquele que lê, no momento em que lê. A poesia está sempre viva!"

Sônia Arruda

julho 10, 2013

Significâncias I

SILÊNCIO

È no silêncio que podemos ouvir as almas.
Rogo ao leitor: Declama os versos pra dentro.

AUTORRETRATO

Não habito por muito tempo nos moldes que crio.
(fazer um autorretrato me é impossível).

QUASE

O quase é um desejo debruçado no parapeito, espreitando o inacabado...

REINVENÇÃO

A melancolia para a beira do precipício. A desilusão dá um passo a frente. É quando se descobre que se têm asas.

MEDO

No amor reside o grande perigo. O medo é que nos aponta o caminho certo.

FOME

A poesia é a fome das  palavras. As palavras alimentam os sonhos. O cardápio precisa ser renovado.

MORTE

De tantas vezes que já morri, descobri a possibilidade das eternidades.



junho 02, 2013

fevereiro 23, 2013

Escrevo versos por linhas tortas

por Sônia Arruda

Procuro um vento que me revolva
Os cabelos, o vestido, os sentidos
Que desfolhe as pétalas ressequidas
Que descubra o dragão e desperte
A fera que me estava adormecida

Procuro mais que débil aragem
Quero o ar todo em movimento
Sinal que precede a tempestade
Mostra que não estou aqui... morrendo

Espero a poeira que me cegue
O olhar óbvio e a razão certeira
E almas se esbarrando na minha
Desfile, ciranda e brincadeira

Desejo, das folhas soltas, a dança
E os pássaros tontos, sem direção
Levando nos bicos palavras mortas

Hastes de flores emboladas em trança
Torcendo-se ao ritmo dessa moção
Nas casas e nas vidas, um bater de portas

E, seguindo a ventania que avança
Rota mal traçada pela emoção
Escreva o meu verso com linhas tortas

Teimosa, sim!

por Sônia Arruda





É por pura teimosia
Que a máquina do tempo
Insiste em me lembrar
Que há hora pra dormir
Que há hora pra acordar

Que há momento certo
Pra fazer isso ou aquilo
Pra ir daqui pra outro lugar
Que ócio é tipo de vício
Que o dia está sempre a acabar

É por teimosia maior ainda
Que ela marca e eu nem ligo
Invento outro modo de contar

Minto que a tarefa é finda
Sobre o amor, finjo que acredito
Que existe tempo certo para amar

janeiro 18, 2013

janeiro 04, 2013

Desejo


por Sônia Arruda

Começa com um incômodo
Dorzinha de fome, comichão
Cansaço de posição antiga
Que faz o corpo virar no colchão

Chega, mexe, remexe, vira, revira
Desmancha estante de conceitos
Demole arquitetura planejada
Desarruma a quietude do peito

E ao me encontrar desprevenida
Tão ajustada, eu pensava
Com as coisas todas da vida

Faz-me criança, recém parida
Agita os sentidos, agora, atentos
Na alma que estava encolhida

Silêncio

por Sônia Arruda

Esse silêncio não tinha um nome
só desejo de permanecer incógnito
para que nada lhe tirasse o véu de sossego

Esse silêncio não tinha gosto
embora a mais saborosa fruta
não se lhe comparava em sumo

E, não pronunciável, em boca qualquer
calava-se na minha, sem vontade
tal ausência de som me pertencia

Permitia ao amor se manifestar no gesto
sufocava pérolas que não valiam a pena
partirem em busca de desencontros

Esse silêncio era meu segredo e joia
possibilidade de bem sucedida rebelião
pausa saneadora que protege da loucura


outubro 23, 2012

outubro 17, 2012

O amor é uma fome


por Sônia Arruda

Num assomo, a fome vasta
Varre as memórias suculentas
E guardá-las, não mais tenta
No corpo frágil que arrasta

O amor, essa fome aflita
Que nenhuma força amarra
Estrebucha, ofega, cala
Mas à esperança se agarra

Remédio pros inapetentes
Droga para os compulsivos
Não mede nenhum sacrifício

Sem aviso abocanha mentes
Com seus tentáculos vivos
O amor é uma espécie de vício





outubro 09, 2012

A palavras está viva

por Sônia Arruda

Palavras estouravam na mente inquieta
Percorriam brechas e caminhos líquidos
E se esparramavam por mãos chuvosas
Imagens desenhadas na retina poeta

Palavras escalavam muros e, às portas
Não ficavam paradas. Sem cerimônia
Arrombavam cada placa imóvel e muda
Coloriam as paredes de casas mortas

E mesmo as quietas e com cheiro triste
Ou aquelas fracas, de desejo esquecido
Saltavam dos cantos onde adormecidas
Apontavam a alma. Seus dedos em riste


outubro 03, 2012

Tempo de passagem

por Sônia Arruda

É preciso ter mãos sujas de arar
O tempo, como se a terra fosse
Crespa e fértil, sempre a esperar
Que o desejo revolva o solo doce

É preciso ter na boca o gosto de mar
Sal de saliva em boca que mastiga
O tempo, como se fosse alimento
Ruminando as horas numa cantiga

Preciso é que não se tema o grão
Da areia que da ampulheta desce
Que se ame a água e se ame o chão
Que o tempo vem, passa e esquece

outubro 02, 2012

Demasiadamente

por Sônia Arruda

Demasiadamente sábia
Não pode ver a beleza
Nas malhas da ignorância
Pode haver muita leveza

Demasiadamente forte
Não percebeu a fragilidade
Rochas se desfazem nas águas
Que batem com hostilidade

Demasiadamente grande
Não se encantou em nada
Coisas pequenas passaram
Mas a visão era embaçada

Demasiadamente humana
Não deu lugar ao engano
Nem ao prazer da descoberta
Achou-se, sempre, esperta

Demasiadamente só
Pois só o vazio é tão forte
Nada lhe ameaça a sorte
O seu destino é o pó

Ecce homo

por Sônia Arruda

Divido-me e sou essa parte
Já não mais só contemplo
Como poeta, eu invento
A vida é minha obra de arte

Restauro-me e reconheço
A forma da razão antiga
Que guia com mão amiga
Mesmo eu virada do avesso

Sou pedaço e sou o todo
Reside aqui a possibilidade
O arbítrio é o companheiro
O desejo é a única verdade


agosto 15, 2012

O que os olhos revelam


por Sônia Arruda

Água represada entre cacos
Vidro moído nos olhos
E ardência avermelhada
Sintomas de amor partido

Água escorrendo dos corpos
Vidro espelhado nos olhos
E ardência avermelhada
Revelam um amor nascido

Mas a água é a mesma coisa
Contida ou não. É líquida!
O vidro sempre é de vidro
E vermelho é sempre ardido

O que muda são os olhos
Todo o resto se resume
Na arrumação que mostram
De matéria, verbo e sentido

Poesia necessária


por Sônia Arruda

É necessário que se busque
Um sentido qualquer pra vida
Independente de acaso ou sorte
É necessário que haja a morte
Que limite essa busca comprida






É necessário que se faça arte
Política, estratégia e filosofia
Algo que ajude a passar o tempo
E onde não há ciência, eu invento
Fórmula nova pra velha alquimia

É necessário ter necessidade
Do quê? Não importa se sei
Mas mesmo sem saber divago
E a carência que aqui te trago
É mais um verso que inventei

Que se faça poesia... é necessário!

julho 18, 2012

Vídeo feito em homenagem aos queridos amigos, artistas, escritores, músicos e poetas, que participaram dessa história (2010-2012). 

Obrigada por rechearem a minha vida de POESIA!!!